segunda-feira, 22 de junho de 2015

Fim da Vida

Dirt Road in Painted Desert -Jan Kronsell


Meus pés estão cansados da caminhada.
O poeta disse que é o processo divino que faz existir a estrada. Mas a poeira acumulada entre os dedos traz à baila a vontade de parar. Caminho longo, desânimo fadado. Mas se a estrada é divina o caminho não é uma escolha, é destino. É triste ser objeto das ações.

Não aguento mais. Sento no acostamento. Carrego minha tralha pesada, contendo a fome, a solidão e a saudade. Não jogo nada fora porque o fardo é parte de mim. Levanto, coloco a tralha nos ombros e prossigo. Cada vez mais devagar, os joelhos se dobrando mais a cada curva.

A boca seca e a tralha pesando como uma vida inteira nos ombros, tombo no chão e respiro o pó da estrada. Sabor amargo. O caminho sempre tem esse gosto quando sentimos a angústia de viver. Porque estrada é metáfora. A gente constrói. Só percebi isso no fim do caminho. Nosso trajeto não pertence aos deuses.